MES, MRP, MRP II, ERP, APS, SCM: o papel de cada uma das ferramentas de automação e integração no ciclo de negócios das indústrias
A principal característica do movimento que o mercado chama de “transformação digital” é a empresa ter controle preciso e ágil de todas as etapas, do pedido à entrega, com maximização da qualidade e das margens em cada produto ou contrato fechado.
Mas as ferramentas de automação e integração não são um bloco único. A “sopa de letras”, de fato, resulta de vários conceitos, que os acadêmicos de administração e a indústria de software têm promovido nas últimas décadas, focados em setores específicos da atividade industrial, como atendimento a cliente, aquisição de insumos, vendas, processos contábeis/financeiros, e a própria fabricação dos itens.
As ferramentas de automação e integração Cada uma dessas categorias de sistemas pode implicar saltos de qualidade em várias frentes, como conversão de vendas; redução de desperdícios; otimização da capacidade produtiva; transparência na gestão e outras melhorias.
Em meio à ampla disponibilidade de sistemas para os vários departamentos da companhia, dois fatores determinam o sucesso dos projetos: a forma de usar o software e, principalmente, a facilidade de a informação fluir entre os diferentes sistemas.
Na prática, pouco adianta investir em modernos canais de vendas, como portais, apps mobile, ou aplicações de apoio ao vendedor, se não se tem certeza sobre as condições de entrega, ou se há gargalos nos procedimentos de back office.
Evidentemente, o peso de cada tipo de sistema e ferramentas de automação e integração varia conforme o ramo de atividade e a estratégia de mercado de cada companhia.
Em vários produtos há ainda sobreposições de funcionalidades (por exemplo, o ERP tem módulos de CRM). No entanto, é interessante definir os conceitos e as propostas de valor por trás dessas siglas.
O papel de cada ferramenta de automação e integração no ciclo de negócios das indústrias
MRP
O MRP (materials requirements planning, ou planejamento de necessidade de insumos) foi a primeira aplicação que permitia a gestão da produção com base em informações reais.
Com base na projeção de demanda, são feitos cálculos sobre quanto e quando se deve dispor de matérias-primas, com minimização de estoques e de desperdícios.
MRP II
O MRP II (manufaturing resources planning, ou planejamento de recursos produtivos) acrescentou ao MRP o cálculo e o planejamento da utilização de outros recursos, como capacidade de máquina, mão de obra, despesas etc.
ERP
O ERP (enterprise resources planning, ou gestão empresarial integrada) surge nos anos 70, com as redes de terminais de mainframe, e ganha força nos anos 80, com “um computador em cada mesa” e a informatização dos escritórios.
O ERP reúne várias funções, como finanças, contabilidade, RH, compras, ordens de produção, ou vendas; consolida todas as informações em uma única base de dados; e faz parte da rotina de trabalho nos diversos departamentos.
Nos anos 90, a perspectiva do bug do milênio contribuiu para que muitas empresas substituíssem sistemas desenvolvidos sob encomenda, normalmente em mainframe, por pacotes de ERP.
Com a globalização e as novas exigências de sustentabilidade e governança, o ERP foi também um caminho de alinhamento aos melhores padrões de gestão empresarial.
Embora o mercado de ERP tenha centenas de produtos, muitos destinados a nichos setoriais e regionais, o segmento corporativo viu a consolidação de empresas como SAP, Oracle e da brasileira TOTVS.
Além da fusão de empresas de ERP, essas grandes companhias de software adquiriram empresas com outras especializações, o que acrescenta ao ERP módulos como CRM (gestão de relacionamento com clientes), portais e outros recursos.
Em contrapartida, os ERPs geralmente são limitados para lidar com a dinâmica do ambiente produtivo e com as peculiaridades do chão de fábrica.
MES – TI no chão de fábrica: excelência operacional e alinhamento estratégico da gestão da produção às metas empresariais
O MES (Manufacturing Execution System, ou sistema de execução de manufatura) traz a inteligência da TI ao ambiente de produção, com automação e integração das várias etapas e componentes dos processos fabris.
Conforme a implementação, o MES inclui diversos módulos, como OEE (eficiência geral de equipamentos), APS (sistemas de escalonamento de produção), Kanban Eletrônico e outros recursos que fornecem visibilidade e capacidade de intervenção imediata na realidade do chão de fábrica.
A relação do ERP com o MES é claramente entendida por quem viveu a transição na informatização dos escritórios, dos tempos do CPD às atuais ferramentas em web e mobile.
Hoje, com os ERPs e outros sistemas integrados, o usuário, funcionário ou cliente, não tem dúvida de que suas ações vão impactar imediatamente os sistemas de retaguarda.
Se o vendedor fecha um pedido, a baixa no estoque, o faturamento e outras ações são desencadeadas automaticamente, com base em uma “única versão da verdade” (sem riscos de erros e discrepâncias de informação).
O MES leva essa comunicação e integração aos componentes do chão de fábrica, fornecendo uma gestão integrada de todos os caminhos por onde passa o processo produtivo, com uma visão clara do comportamento de cada elemento, assim como seu impacto nos demais.
Os usuários do ERP, por sua vez, passam a contar com uma integração direta a um sistema confiável de gestão industrial, o que agrega integridade ao trabalho ao longo de todos os setores da companhia e etapas de um processo de negócio.
IoT e Indústria 4.0 entram no glossário
A previsão referente a “um computador em cada mesa” fez com que Bill Gates ficasse bilionário já nos 80. O que escapou à sua projeção é que, nos anos 90, todos esses computadores estariam interconectados.
Pode parecer redundante comentar o impacto da Internet na indústria de tecnologia, na economia, nas organizações e na vida. Todavia, a cada momento vemos casos inéditos de negócios, cujo sucesso está na criatividade de combinar o que pode se fazer com as atuais tecnologias e ferramentas de automação e integração.
Os fornecedores de ERP reestruturaram toda arquitetura de seus produtos à web, um assunto mais relacionado à TI. Do ponto de vista das cadeias de produção, cabe lembrar que módulos como SCM (gestão de cadeias de suprimentos) ou portais de intranet promovem uma interação entre os agentes produtivos, sem a qual hoje não se consegue atuar em setores competitivos ou com margens pressionadas.
A ideia da Indústria 4.0 é radicalizar a integração; no momento em que alguém está prestes a demandar um parafuso, já se dimensionam os efeitos e se executam as otimizações na metalúrgica e na mineração, por exemplo.
A Internet das Coisas (IoT) é outra transformação importante, que traz a tecnologia ao mundo físico e da produção de bens materiais. A previsão é que nesta década o número de dispositivos conectados ultrapasse 16 bilhões.
Em resumo, as máquinas são capazes de enviar informações, cumprir regras e se autocomandar, com base em sistemas embarcados. Mesmo que isso possa parecer familiar a quem está acostumado a recursos avançados de ferramentas de automação e integração, a novidade é a massificação dos padrões de comunicação e do volume de dispositivos conectáveis.
Embora todas essas siglas sejam importantes na agenda de congressos, publicações técnicas, ou estudos acadêmicos, pode não ser tão interessante despejar esse abecedário na interlocução com executivos de negócios, sócios ou conselheiros da companhia.
A abordagem mais eficaz talvez seja traduzir as propostas de inovação em casos de uso, em que se dimensionem as melhorias e os ganhos.